quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Vamos ajudar a Galp

Por Antunes Ferreira
Há momentos na vida de um homem em que a tristeza e até a desilusão imperam por força das desgraças que acontecem a outrem. Pessoas e instituições que se lamentam da desdita merecem-me a afirmação de que estou com elas, lhes dou a minha solidariedade mais sincera, e que estou disposto – se tal for necessário – a enxugar-lhe as lágrimas.
Ombro em que se amparem ofereço-lhes desinteressadamente, e nele podem estar certas que podem chorar as suas mágoas. Os amigos têm de ser assim sobretudo nas ocasiões mais difíceis. Por isso compreendo as lamentações, aliás justíssimas, dos que sofrem na carne e nos órgãos (refiro-me obviamente a entidades, as mais das vezes pouco habituadas ao negativo da vida e por isso mal preparadas para reagir ao descrédito) as inclemências e os desvarios que existem neste planeta azul.
Feita esta declaração muito sentida em virtude de preocupações ciclópicas (parece-me que o termo foi utilizado por um governante que sucedeu a outro no antigo regime) que apoquentam homens e organizações, debruço-me verdadeiramente preocupado sobre notícia que obnubila uma empresa que nos acompanha a todos (ou quase) no dia-a-dia e que se esforça por nos servir bem. Vamos, pois, ao augúrio: “A Galp apurou um lucro de 218 milhões de euros nos nove primeiros meses do ano, menos 58 milhões (ou 21%) do que no mesmo período do ano passado” Numa confissão pública – o que é sempre de louvar – foi a própria petrolífera portuguesa que o revelou há dias.
E num revolver o punhal da angústia na ferida (diga-se que não foi um haraquíri) juntou logo em seguida que o resultado foi penalizado pelo desempenho no terceiro trimestre, período em que a empresa apresentou uma deterioração dos resultados financeiros e teve um aumento das amortizações e provisões no negócio de refinação e distribuição.
O povo que gosta de ser informado e portanto elucidado carregou o cenho. Podia lá ser? Um tal desastre de dimensão nacional era quase um cataclismo para não dizer mesmo um tsunami. Receou. Seria necessário recorrer à Igreja que nos momentos mais complicados está sempre ao dispor dos que sofrem? Umas novenas? Umas procissões? Umas penitências? A hipótese de umas voltas de joelhos à volta do recinto sagrado de Fátima?
As declarações do Emérito Cardeal Policarpo vieram, porém, lançar a hesitação sobre a intercepção da casa de Deus. Isto porque o ilustre purpurado/reformado tinha afirmado que lhe parecia “ que ninguém sabe que Portugal está numa crise e dá a ideia que todos reagem como se o estado pudesse satisfazer as suas reivindicações». Mas, não se ficou por aqui o prelado resignatário.
Disse mais: que não encontrara ”ninguém das oposições - todas elas - que apresentasse soluções. E se falhasse este mecanismo da economia liberal, Portugal só teria dinheiro para mês e meio», frisou, acrescentando que, nesse cenário, «não haveria dinheiro para pagar salários e pensões». É certo que D. Policarpo se considerou a si próprio fora do prazo de validade, mas não é menos o que entendeu sobre isso a Santa Sé. Donde, para ajudar a Galp, tinha de haver outras soluções que não a intervenção divina, mesmo dando de barato que o auxilio da Senhora de Fátima poderia ser ineficaz. A testá-lo, o Imóvel de Belém continuou – imóvel. Nem com a ajuda da ilustríssima esposa falou. E se o fizesse certamente diria mais uma vez asneirada da grossa, já que em alternativa nenhuma mosca se arriscaria em entrar em boca tão suja, vingativa e mentirosa.
Daí que reafirme a minha irrecusável piedade pela Galp. Que já foi Sacor fundada pelo judeu Martin Saim, residente em Paris e que teve nos seus corpos gerentes figuras importantes do salazarismo, a mais conhecida delas foi Francisco Casal Ribeiro, o ultra mais ultra no combate ao “primaveril” Marcelo Caetano.
Estou mesmo na expectativa do aparecimento no Facebook de uma proposta para a constituição de uma associação cujo escopo será a angariação de fundos para ajudar a gasolineira. Para tal sugiro a contratação da Dona Isabel Jonet, especialista em peditórios a nível nacional, com especial incidência às portas das grandes superfícies comerciais. Com uma condição sine qua non: que o litro da gasolina vá descendo a pouco e pouco, até que me seja possível encher o depósito do meu carro sem recorrer ao método usado pelo (des)Governo: assalto e roubo à mão desarmada.