sábado, 23 de novembro de 2013

O desnorte


Por Antunes Ferreira
QUINTA-FEIRA passada foi um marco no desnorte do (des)Governo. Foi o que pode considerar um dia horribilis. Se se entendesse necessário encontrar uma justificação para o que acaba de afirma, bastaria referir que nunca se tinham verificado em Portugal tantos desencontros na maioria parlamentar, no (des)Governo, na Presidência da República, na União Europeia e no Fundo Monetário Internacional. Resumindo: cada cabeça, cada sentença.
O dia começou mal, com o ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares a lamentar que nem sempre o que afirmam os responsáveis máximos dos organismos internacionais coincida com o que os técnicos da Troica depois defendem nas reuniões em Portugal. Pouco faltou para que Marques Guedes lançasse uma advertência à entidade de três organismos que vêm governando o nosso país: Falem em consonância, porra! Não o disse, mas se me  permitem extrapolo.
Nessa quinta-feira trágica o Comissário Europeu dos Assuntos Económicos Oli Rehn tinha dito que está na altura dos Estados Membros começarem a abrandar a austeridade e o ritmo de consolidação orçamental, dando como exemplo Portugal, e concentrar-se em políticas que promovam o crescimento da economia e do emprego.
Mas também o FMI foi objecto da crítica do (des)governante  que afirmou que “Já ouvimos a presidente do FMI várias vezes pronunciar-se sobre a necessidade de abrandar e de alterar o programa de austeridade dos países sob ajustamento, mas depois a atitude dos técnicos do FMI e dos relatórios do FMI sobre a matéria dizem rigorosamente o contrário daquilo que é dito nas entrevistas pela presidente do FMI”.
Entretanto em Bruxelas a União desconfiou dos números do défice e do desemprego apresentados pelo (des)Executivo, passando assim um atestado de incompetência ao Instituto Nacional de Estatística. Zangavam-se as comadres descobriam-se as verdades. Mas, os ataques à politica de austeridade não ficaram por aqui, muito longe disso.
Já à noite, na reunião das esquerdas promovida por Mário Soares sob a defesa da Constituição da democracia e do estado social, as referências feitas pelo ex-Presidente ao actual ocupante do Palácio de Belém, levaram ao rubro a sala da Aula Magna da Universidade de Lisboa. O antigo secretário-geral do Partido Socialista não esteve com paninhos quentes: “É por isso que digo que o Presidente e o Governo devem demitir-se, enquanto podem ainda ir para suas casas pelo seu pé. Caso contrário, serão responsáveis pela onda de violência que também os atingirá”.
E singularmente quase na mesma altura a manifestação das forças de segurança, desde a PSP às polícias municipais, passando pelos Serviços de Fronteiras, agentes da Polícia Judiciária e GNR, rompendo as barreiras de segurança subiu em sinal de protesto a escadaria da Assembleia da República protestando contra o ataque de vinham sendo alvo do (des)Governo.
E um destacado representante das associações sindicais que convocaram a manifestação sublinhou também a falta das condições de segurança originada pelos sucessivos cortes que se verificavam e dando o seu aviso de que em 2014 com o OE que já estava em discussão no Parlamento as coisas seriam ainda piores. Foi a maior que algum dia se verificou dos elementos das forças de segurança. Que terminou pacificamente. O que motivou a “felicidade” de Assunção Esteves, presidente da AR.
O mesmo já não aconteceu ontem, sexta-feira. O superintendente Paulo Valente Gomes, Director Nacional da PSP colocou o lugar à disposição “na sequência dos acontecimentos ocorridos ontem (quinta-feira) em frente à Assembleia da República”, informou através de uma nota do MAI enviada à comunicação social. O ministério acrescentava que Miguel Macedo tinha aceitado o pedido de demissão e que ia “iniciar o processo tendo em vista a designação de um novo Director Nacional” da PSP.
Um pot-pourri desta dimensão é mais do que preocupante. Até porque, na Aula Magna também estiveram altas patentes militares. Ocorreu-me até o que se passara na revolução de Outubro na Rússia e que conduziu à eliminação do czar e de quase todos os Romanov e originou a criação da falecida URSS. Exagero, talvez. Mas, convém não esquecer que quem semeia ventos colhe tempestades.

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